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Portugal não atingirá as metas carbónicas até 2035 e 2050

04 novembro 2024
9min.

Estudo “Mobilidade Elétrica em Portugal: Onde estamos e para onde vamos?”, da Católica Lisbon School of Business & Economics, conclui que é urgente uma rápida transformação da oferta elétrica no transporte rodoviário

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O estudo “Mobilidade Elétrica em Portugal: Onde estamos e para onde vamos?”, realizado em outubro de 2024, pela Católica Lisbon School of Business & Economics, alerta para a falta no país de mais automóveis elétricos e de medidas de incentivo à instalação de pontos de carregamento, sem os quais o país não atingirá as metas de neutralidade carbónica que assumiu. O estudo analisou o setor dos transportes, rodoviário, marítimo, aéreo e ferroviário, avaliando o peso de cada um destes segmentos em termos de consumo energético, poluição e adesão às formas de mobilidade elétrica.

Nas conclusões é referido que Portugal tem já condições para responder a um aumento da procura de carregamento elétrico, num modelo mais aproximado à atual rede de combustíveis fosseis, adaptando a infraestrutura para esse efeito nomeadamente no que respeita aos postos de carregamento rápidos e ultrarrápidos. Paralelamente, é necessário reforçar a transparência dos preços de carregamento e investir em novos modelos de concessão de autoestradas, que permitam ter portagens subsidiadas, sistemas de portagens que permitam reduzir o congestionamento em horas de ponta e o uso de vias prioritárias, como os corredores dedicados para transportes públicos.

Joana Silva, Professora da Católica-Lisbon, salienta que “o progresso de Portugal no setor dos veículos elétricos (EVs) é notável e já existem cerca de 130 mil veículos 100% elétricos. Mas Portugal não atingirá as metas de neutralidade carbónica até 2035 e 2050, mesmo que todos os novos veículos vendidos a partir de hoje sejam elétricos”.

Os objetivos são que em 2050, 100% do parque automóvel seja EV, com uma meta intermédia de 36% em 2035. Em Portugal, o setor dos transportes rodoviários é responsável por 30% do total das emissões de gases (quando a nível mundial os transportes produzem quase metade, 16%, das emissões).

Em relação às políticas públicas de incentivo, o estudo refere exemplos internacionais, como a Noruega, onde há financiamento público para ter pelo menos dois postos de carregamento rápido a cada 50km em estradas e foram criados acessos a vias de transportes públicos, portagens subsidiadas e estacionamento gratuitos. Outro exemplo é a Alemanha, onde, com investimento público, foram instaladas nas autoestradas 9000 novas tomadas e 1000 postos rápidos e ultrarrápidos. Já nos Países Baixos foi dada prioridade aos táxis e camiões elétricos e reduzido o IVA para os carregadores públicos.

Nas conclusões, o estudo refere que faltam postos rápidos e ultrarrápidos adequados aos fluxos fora das grandes cidades e que apenas existem apoios públicos à infraestrutura em condomínios, sendo necessários grandes investimentos em carregadores na via pública rápidos e ultrarrápidos. É ainda assinalado que em Portugal já há estacionamento gratuito para veículos elétricos em várias cidades, mas faltam medidas como subsidiação de portagens e acesso a vias prioritárias para esse tipo de veículos bem como locais para carregamento público. Em relação à aquisição de veículos, é mencionado que Portugal já implementa subsídios e créditos fiscais para a mobilidade elétrica, mas, no entanto, faltam políticas que incentivem diretamente a substituição de carros antigos e poluentes.

Transparência de preços

Face a este cenário, o estudo indica duas prioridades: é necessário incentivar a renovação do parque automóvel baseado em motores de combustão interna para um parque elétrico – que neste momento representa 3% do parque automóvel nacional – e, também, procurar um melhor equilíbrio entre o transporte individual e o transporte coletivo. Paralelamente, são precisos incentivos à instalação de carregadores rápidos e ultrarrápidos para viagens de longa distância, um problema que se agrava porque metade dos carregadores do país estão nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e 101 municípios no país não têm qualquer instalação de carregamento rápido.

O estudo defende também a criação de maiores facilidades à utilização dos veículos elétricos, como o acesso a vias prioritárias, subsidiação de portagens, estacionamento em todas as cidades portuguesas e apoios à aquisição superiores para quem substitui carros antigos e poluentes.

O estudo assinala ainda a importância de se tornar o preço de carregamento totalmente transparente e de se permitir o pagamento com cartão bancário em todos os postos, aproximando a experiência de carregamento dos veículos elétricos ao dos veículos com motor a combustão. Ainda na facilidade de carregamento, é sugerida a necessidade de facilitar o acesso, uma vez que 42% das habitações não tem garagens, nem condições para a instalação de carregadores e, salientam que, o preço do carregamento na via publica (carregamento rápido) é tão caro como o abastecimento de gasóleo. 

Todas estas medidas são fundamentais para reduzir até 2030 as emissões por transportes rodoviários, que representam 74% das emissões do setor dos transportes a nível global. Isto acontece quando 80% do transporte rodoviário em Portugal é feito por automóveis ligeiros e apenas 14% das pessoas usa diariamente os transportes públicos para se deslocar. É importante destacar que o atraso no setor dos veículos pesados, que requerem carregadores especiais, é ainda mais pronunciado. Em 2023, apenas 5% das vendas destes veículos foram de veículos elétricos. O estudo identifica também a necessidade do reforço do uso de comboios (em vias eletrificadas) e advertem que, mesmo com o investimento já previsto na ferrovia, o transporte rodoviário ainda será necessário para a maior parte das deslocações em Portugal.

Joana Silva enfatiza ainda que o estudo conclui que é essencial “aumentar os apoios à compra de EVs para quem substitui veículos antigos e poluentes, facilitar o uso de EVs com acesso a vias prioritárias, subsidiação em portagens e estacionamento em todas as cidades”, será também importante “examinar o modelo organizativo do setor, identificando oportunidades para, através de maior concorrência, aumentar a oferta de postos de carregamento e reduzir os preços para os utilizadores, assegurar transparência nos preços de carregamento e permitir pagamento com cartão bancário em todos os postos, equiparando a experiência à dos veículos de combustão, priorizar a instalação de carregadores rápidos e ultrarrápidos para viagens de longa distância, e promover acesso a transportes públicos de qualidade como uma alternativa sustentável ao uso individual de veículos.”

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