"O não tira-me do sério"
Conheça Paulo Mascarenhas, CEO da MCnur, Figura Mais do Suplemento Mais Eurotransporte.
Bem-disposto, directo e sem papas na língua, assume ser um “teimoso moderado”. Por acreditar que querer é meio caminho para acontecer, exige dos outros tanto quanto a si mesmo e profissionalmente não tem problemas em “deitar fora as maçãs podres”, se assim tiver de ser. Criou a sua empresa há cerca de quatro anos, mas há muitos mais que trata por tu o negócio dos motores.
A ideia de deixar o plástico protector a cobrir a alcatifa do stand da MCnur na Mecânica não foi dele. Vencido e algum tempo depois convencido, Paulo estava notoriamente orgulhoso da imagem da empresa no evento dedicado ao aftermarket, onde nos recebeu. “Somos o único stand que ainda tem o plástico, o Daniel [Costa] disse que ficava melhor assim, metálico, e eu depois de duas horas a pensar acho que tem toda a razão. Está diferente!”, regozija-se, de sorriso nos lábios, com a decisão tomada. A equipa, que considera família, está toda envolvida no evento, “somos igualmente importantes, se um vender e não houver ninguém para entregar… aliás, é o rapaz que entrega que nos apresenta os clientes quase todos!”, reconhece.
Impera a boa disposição, enquanto decorre a entrevista. Paulo vai-nos mostrando os motores que tem em exibição – um dos quais em funcionamento – e garante que nenhum deles foi escolhido ao acaso. Do campeão de vendas, ao V6 aberto para chamar a atenção, passando pelo grande motor BMW totalmente reconstruído pela MCnur, cada bloco tem uma boa razão para ser apresentado na Mecânica. E o espaço, em tons de vermelho, não passa despercebido.
Já bem ultrapassada a fase de entrada no mercado, as feiras são a oportunidade de dar uma cara e um corpo às vozes que diariamente ouvem ao telefone no call center da MCnur: “é um contacto maravilhoso, pois nunca vimos a maior parte dos nossos clientes e eu gosto de conhecer as pessoas, cumprimentá-las, é muito agradável”.
TRINTA ANOS DE TRABALHO
Aos 44 anos, Paulo Mascarenhas está como peixe na água no que toca a motores novos, usados e reconstruídos, o «core business» da empresa que fundou e que cresce dia após dia, a um ritmo que ultrapassou as suas melhores expectativas, resultado de um forte trabalho de prospecção, comunicação e marketing para entrar num mercado fechado. “Depois da crise as mentalidades mudaram”, constata, “as pessoas já não vão só à origem. A internet está poderosa e faz com que se procure o melhor: garantias, preços e qualidade”. Aliás, para se ter uma ideia, 70% dos clientes da empresa chegam directamente da internet e das redes sociais.
Uma evolução rápida, que causou sérias “dores de crescimento, por não ter capacidade para poder fazer face a tanta venda” e que não fazia prever que “em quatro anos passássemos de uma sala de 6 m2 para um armazém de 1300 m2”.
O trabalho – de que Paulo não se vê livre nem nas férias – não o assusta. É uma realidade que conhece desde os 14 anos, numa época em que era preciso pôr dinheiro em casa. Começou nas obras e, desde então, trabalhou na hotelaria, no ramo comercial e na noite, até se juntar ao irmão numa empresa concorrente da MCnur. Cerca de sete anos depois fez o seu próprio caminho, trouxe o irmão com ele, e agora o desafio tem sido cortar o cordão umbilical da empresa.
Líder inato, custa-lhe libertar-se do velho hábito de pensar “que só feito por nós é que fica bem feito”, mas tem-se esforçado, porque “primeiro vem a família, depois a empresa”. Dá o número pessoal a toda a gente, mas confidencia que nem sempre atende e raramente devolve chamadas, “é impossível”. No call center da empresa, faz o horário normal, sai mais cedo para ir buscar os filhos à escola e é ele mesmo quem cozinha para eles e para a mãe, que vive em sua casa: “Sei fazer tudo e o meu arroz de cabidela é de outro mundo!”, apregoa. Adora ter a casa cheia e conta que as festas de passagem de ano, com direito a fogo de artifício, já são conhecidas por toda a vizinhança. Talvez por isso, um dos seus dois gatos tenha preferido mudar-se para a casa da vizinha, quiçá menos agitada: “agora vai lá às vezes cumprimentar-me, com um ar importante”, ri. Paulo não guarda ressentimentos, nem do Riscas nem de ninguém. Confia geralmente nas pessoas e só não perdoa traições. O problema é se lhe disserem que não, “fico com uma depressão, não gosto. O «não» tira-me do sério. Eu não digo que não a ninguém, é preciso isto ou aquilo? Bora!”.
Apesar de descontraído, Paulo Mascarenhas é um homem de ideias fixas. À nossa volta alguém sussurra “às vezes tem mau feitio!” e Paulo relativiza “sou teimoso, mas os meus amigos levam-me a bem, dão-me um abraço e dizem «epá não sejas assim, tu és chato». São eles que me trazem o equilíbrio”.
Em criança, “como toda a gente” quis ser bombeiro ou astronauta e hoje continua a sonhar em ir ao espaço. É capaz de abrir um motor e montá-lo de novo, mas não se atreveria a tentar reconstruí-lo. Até porque na sua casa reconstruído é sinónimo de qualidade: “hoje em dia é o corrigir dos problemas que aparecem nos motores novos, portanto, é mais fiável para mim o reconstruído do que o próprio novo, muitas vezes”. Questionado sobre o talento que lhe falta, devolve em jeito de brincadeira: ”Agora é que estou a ver, tenho todos os talentos!”.
O seu primeiro carro foi um MINI, para aprender a conduzir, um ano antes de tirar a carta. Como assim? “Comprei para ir às aulas e nunca fui apanhado. Aprendi sozinho, na altura dei a volta ao quarteirão em primeira, foi uma experiência maravilhosa. Lá pus a segunda no dia a seguir e devagarinho consegui. Sempre fui desta forma!”, explica.
Diz-se transparente, sincero e pessoa de não deixar nada por esclarecer. Pondera antes de tomar decisões e na certeza de que são o melhor que deve fazer. Tem inimigos? “Claro que sim, há muita gente que não me quer bem, é normal neste mundo dos negócios. Faço questão de os manter por perto e de os cumprimentar”. Ao final do dia, Paulo dorme descansado pois sabe que deu o seu “melhor”.
*Texto orginalmente publicado na Edição n.º 107 da Revista Eurotransporte, Suplemento 5.