Sandra Resende - Aos comandos da IVECO
Depois de um ano sob orientação ibérica, a IVECO Portugal nomeou, em Abril, Sandra Resende como nova directora-geral, sendo a primeira vez que uma mulher assume este cargo numa marca de camiões no nosso território.
Foi em 2010 que Sandra Resende integrou a estrutura da IVECO, desempenhando a função de directora financeira da CNH Industrial em Portugal. Passados nove anos, assume agora a direcção-geral da marca e a Eurotransporte foi saber como encarou esta mudança e qual a estratégia que o fabricante italiano está a delinear para o mercado nacional.
Eurotransporte: Em primeiro lugar há que referir que a IVECO está a ser pioneira ao nomear uma mulher para directora geral da marca. Como têm sido as reacções?
Sandra Resende: Honestamente, estou muito habituada a ser uma mulher num mundo de homens, mas não noto nenhum handicap. Talvez em alguns clientes isso possa causar alguma estranheza, mas fui bem acolhida. Não tenho tido qualquer sensação de limitação. Num cargo de direcção, mais do que ser mulher ou homem, o importante é ter soft-skills e uma forte capacidade de gestão de recursos humanos. O segredo das empresas é ter as pessoas certas nos lugares certos e motivar equipas.
Em Abril assumiu a direcção da IVECO Portugal, deixando para trás a direcção do departamento financeiro. Como é que encarou a mudança?
Penso que foi uma evolução natural, porque o departamento financeiro na IVECO tem uma interacção muito grande com o negócio e toda a aprovação passa pela parte financeira. Temos uma forte componente de controlo de gestão que, mais do que fazer reportings, tem uma participação muita activa na finalização do negócio. Sinto que tenho de ter uma ligação mais próxima com os clientes, mas não houve um corte abrupto.
“O segredo das empresas é ter as pessoas certas
nos lugares certos e motivar equipas”
O conhecimento que já tem da área financeira é benéfico nesta nova função?
É muito benéfico. Tem de haver uma visão de gestão da empresa e, quando se analisa um negócio, temos também de ter uma noção dos impactos que este tem em todas as áreas, não só na operacional, mas também ao nível de tesouraria, da cobrança e dos impostos. Ajuda a montar os negócios de uma forma mais rentável para a empresa e a perceber quais são as ferramentas que conseguiremos utilizar, por exemplo, para dar soluções de financiamento aos nossos clientes.
Quais têm sido os principais desafios?
O principal desafio foi começar a estruturar a empresa de acordo com o que seria o meu planeamento estratégico, portanto, definir a equipa. A IVECO precisava de alguma estabilidade a esse nível. Temos elementos muito valiosos dentro da empresa, pessoas com muito tempo de casa, conhecimento e dedicação. Depois tive o desafio do relançamento dos novos produtos, quer da Daily quer da gama pesada, e de nos adaptarmos à nova estratégia do grupo e à nova forma de estar no mercado ao nível da venda. Estamos a ir um pouco em contraciclo com o que está a ser feito no mercado, pelo menos a nível nacional.
Que objectivos traçou para este primeiro ano?
Para além do lançamento dos novos produtos, de nos prepararmos para isso e fazermos o phase out do produto actual, a primeira estratégia está em adquirirmos uma posição muito mais vincada no segmento dos rígidos e da construção e focarmo-nos no gás, onde temos um produto ímpar e rentabilidade bastante elevada. Além disso temos o novo produto, os semi-novos, que são os buy-backs das nossas vendas de veículos novos e que é um produto com qualidade, com serviços associados a nível de garantias, contratos e manutenção.
A prioridade para este ano é melhorarmos também a nossa rede de forma a conseguirmos vender este produto semi-novo e termos os veículos recondicionados em perfeitas condições. Acho que o mercado português cada vez mais está a encarar os semi-novos como um produto efectivo, alternativo e de qualidade. Aliás, temos clientes de grandes frotas que, se falássemos com eles há dois ou três anos, nunca lhes passaria pela cabeça comprar veículos semi-novos e, neste momento, estão a pedir cotações, portanto, é uma realidade que se está a impor.
Lançaram recentemente a nova gama de pesados WAY. Que mais-valias pode trazer para a IVECO?
É um produto completamente inovador em termos de estética e de qualidade face aos produtos que a IVECO tinha. Assenta muito numa estratégia de proximidade ao cliente e ao motorista. Oferece ainda uma série de serviços associados ao nível de conectividade, de gestão de frota, de aconselhamento de reduções de consumo de combustível, o que se chama de manutenção preventiva, que tornam possível à IVECO, para além de vender o camião, comercializar uma série de serviços associados, como consultoria aos nossos clientes de forma a permitir-lhes diminuir de forma mais eficiente os custos e gerir melhor a frota.
As encomendas vão, entretanto, começar a ser feitas. Já temos alguns clientes interessados, mas efectivamente iremos começar a disponibilizá-lo para o ano. Penso que vamos ter uma boa aceitação, nomeadamente pelos serviços que lhe estão associados. Vamos ter alguns veículos de demonstração para os nossos clientes poderem experimentar em condições normais do seu dia-a-dia e iremos também fazer um lançamento, previsto para Novembro, onde vamos juntar a nova gama de pesados com a nova Daily e vai ser um dia de portas abertas.
A nova Daily é outra das grandes novidades deste ano. Que importância tem esta renovação para o fortalecimento da IVECO?
Penso que é muito importante. É uma linha contínua, ou seja, a IVECO, ao nível da Daily, tem sido sempre o grupo que marca de certa forma a inovação e que faz o caminho que depois os restantes fabricantes tentam seguir. É um produto de uma qualidade ímpar e onde também se está a tentar, através dos serviços associados, permitir uma maior conectividade, conforto e segurança ao nível da condução.
Quer na nova Daily, quer na nova gama de pesados está a ser dada uma atenção especial ao utilizador do veículo, e não só ao gestor de frota, porque sabemos que muitas vezes o motorista pode marcar a diferença e a produtividade dele muitas vezes está associada à qualidade de condução. Penso que as alterações que foram feitas ao nível da nova Daily vão marcar essa diferença. O produto está muito mais fiável e fácil de conduzir, tem uma série de assistência em fila, aos ventos laterais... Parece um veículo ligeiro de passageiros. Está mesmo muito bom!
Outra das grandes apostas da IVECO é o gás natural. Como tem sido a receptividade no mercado nacional?
O objectivo de apostar no gás natural foi porque acreditamos que isto é o futuro ao nível dos transportes. A electricidade no longo curso não é uma alternativa e acreditamos que o gás o consegue ser. Para além de ser um veículo ecológico, permite reduções de CO2e os consumos são muito mais económicos, portanto no longo curso nota-se uma diferença enorme. A IVECO apostou num produto, e somos pioneiros no gás, que permite uma autonomia de 1600 km, ou seja, tem capacidade para fazer um longo curso e ir ao encontro das exigências que estão a ser implementadas. A aceitação tem sido progressiva e temos alguns transportadores com frotas que estão interessados, porque efectivamente o veículo tem qualidade, autonomia, bom desempenho e é ecológico.
O IVECO Evadys foi lançado, recentemente, em Portugal. Depois de vários anos sem disponibilizar bases de chassis para carroçadores decidiram regressar ao mercado com um produto próprio. Porquê?
Achámos que tem de ser a solução. Em Portugal temos um sector dos autocarros que é muito sui generis, que está muito assente nos carroçadores. Efectivamente a IVECO não disponibiliza um chassis que o carroçador depois possa preparar. Temos actualmente, uma equipa forte nos autocarros na IVECO Portugal, uma equipa dedicada e achámos que era o altura certa para começarmos a lançar um produto 100% IVECO, com garantia da marca e contrato de manutenção. O mercado está receptivo e temos forma de o trabalhar neste momento.
O que é que pesa mais na compra de um veículo: o produto em si ou tudo o que está associado?
Penso que, hoje em dia, é tudo o que está associado. Para o cliente é muito importante não só o produto, mas acima de tudo ter acompanhamento, um bom serviço pós-venda e quando tem problemas, ter uma resposta célere e aconselhamento profissional ao nível de gestão de frota, de consumo e manutenção preventiva.
Como está a ser 2019 para a IVECO Portugal?
Tem sido um ano de muitos desafios, existiram uma série de alterações e está a ser marcado por uma mudança de estratégia ao nível da IVECO. Fomos nós que iniciamos em grande parte a venda de veículos com buy-back de forma mais massificada, somos pioneiros no gás e estamos também a sê-lo na «viragem» ao nível da venda, ou seja, estamos a tentar fazer uma venda mais sustentável. Nesse aspecto foi um desafio, mas agora já estamos a ter outra receptividade e estamos a sentir que as marcas estão também a acompanhar.
O outro lado de Sandra Resende
Principais qualidades: “Sou uma pessoa muito resiliente, extrovertida, tento ser justa”
Principais defeitos: “Sou muito exigente e posso ser, por vezes, um pouco tempestuosa”
Objectivo de carreira: “Fazer algo que goste e sentir-me útil para a organização. Acho que o trabalho é como um casamento, ambas as partes têm que estar contentes”
Um destino de sonho: Polinésia Francesa
Não abdica de...: “Dos meus filhos e dos livros. Adoro ler e viajar”
*Texto originalmente publicado na Edição n.º 111 da Revista Eurotransporte