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Sustentabilidade é o nosso foco - João Crema (Scania Portugal)

01 agosto 2024

A Scania já está a produzir um novo camião de longo curso internacional, um BEV (100% elétrico) que deverá ser oficialmente apresentado em setembro deste ano, no IAA Transports, em Hannover, Alemanha.

Até lá, conta com outras soluções já eletrificadas, com veículos propulsionados por combustíveis alternativos, e com o Super, um diesel altamente evoluído, que ainda tem muito para dar. João Crema, desde 1 de outubro o novo dealer director da Scania Portugal, disse-nos como o negócio tem corrido sobre rodas e quais as perspetivas futuras, acentuando que o cliente estará, cada vez mais, no centro das atenções da marca, tal como a sustentabilidade dos produtos e da própria produção.

Daqui a um ano, a Scania Portugal estará de mudanças de Vialonga para Castanheira do Ribatejo, de que dista apenas 17 km, onde erguerá nova sede, oficina e estrutura de acolhimento ao cliente, em área que sensivelmente mais que duplicará a atual. Nessa altura, uma nova estrela estará no parque de viaturas a aguardar novo cliente, um novo 100% elétrico para o longo curso, do qual ainda pouco se sabe, mas apenas que terá até 624 kWh de potência de baterias e aproximadamente 400 km de autonomia. João Crema sorri quando se fala do novo Scania. Mas o novo dealer director para Portugal, que foi anteriormente diretor global de vendas de Buses & Coaches na Suécia, apenas condescende que “será muito impressivo”.

EUROTRANSPORTE – Já conhece a Scania Portugal alguma reação à iminente chegada deste novo produto, num contexto de transição energética que é inevitável?

João Crema – Desde 2020 que temos estado a lançar produtos elétricos, alguns até já premiados. Este novo modelo é apenas parte de uma gama de produtos da Scania, que vão do diesel EuroVI, ao biodiesel, gás, biogás, HVO. Mas já conversámos com alguns clientes, existe interesse e já existem alguns projetos para Portugal para transportes com camiões elétricos. O cliente tem interesse em começar o quanto antes, para aprender. Porque precisa de experiência, não só com o camião, mas até pelo comportamento do motorista, o pós-venda, a mecânica, é todo um treino necessário. Já temos diálogo com a comunidade e é um caminho sem volta. Para a Scania, a eletrificação e o transporte sustentável são o foco, como sustenta o nosso CEO. E essa sustentabilidade não reside apenas no camião, mas também a sua origem, os componentes de fabrico, o aço [verde] e toda a cadeia de produção. Tanto nós como as fornecedores assumimos isso com muita seriedade, mas temos que fazê-lo juntos.

Scania-Super

Só entram mesmo produtos sustentáveis na vossa cadeia de abastecimento?

Seguramente. Não só no aço, mas também nas baterias, a própria possibilidade de utilizar materiais reciclados no fabrico de cabines. Acreditamos que a própria concepção do camião tem que ser verde, mesmo nas próprias instalações fabris, seja a reciclagem da água, seja pela utilização de peinéis solares.

Vão realizar testes com clientes [normalmente, todos os fabricantes o fazem] com o novo produto. Contam fazê-lo em Portugal?

O próprio departamento de pesquisa e desenvolvimento leva o produto aos clientes para teste, seja em Portugal ou em Espanha. São regiões importantes, pois temos planície e montanha, muito calor ou frio, e posso dizer que o novo produto está perfeitamente adaptado às condições de circulação portuguesas.

A marca tem pensado nos hubs de fornecimento elétrico nas bases das empresas portuguesas, por exemplo?

Temos abordado o assunto nas conversas com clientes Scania e potenciais clientes, pois estes, se não tiveram interesse nos Scania diesel já o manifestam agora para o Scania elétrico. Debatemos o assunto e as necessidades das empresas, o tipo de transporte que fazem, quando o fazem e a que distância o fazem, de molde a que, quando oferecemos o camião também já integramos a estrutura de abastecimento com a potência necessária. Já não se vende apenas o camião, vende-se toda a solução de transporte, seja o carregamento, seja o mapeamento do transporte.

O ano de 2023 foi bom em vendas [terceiro lugar no ranking, com 941 unidades entregues] para a Scania Portugal e a quota de mercado melhorou significativamente...

Foi espetacular. Ficámos muito próximo da segunda marca mais vendida, o que nos anima muito para o negócio em 2024. É verdade que tínhamos muito produto com entrega atrasada, mas também recebemos muitos clientes interessados no Super, produto espetacular, um especialista em poupança de combustível superior a 10%. Temos relatos de clientes que nos falam que já atingiram 12%. E houve um passa-palavra muito bom. Por outro lado, temos feito muito trabalho na área de serviços – não adianta ter só o camião –, e nas nossas sete filiais temos investido muito em treino e na contratação de mecânicos, pois a frota está a aumentar e temos que acompanhar esse ritmo de crescimento. E não apenas no que se refere a veículos novos, pois também nos usados comercializámos mais de 400 unidades, o que também foi um recorde em 2023. Só vendemos mais quando temos a rede bem treinada, e isso é fundamental, para que tenhamos o camião a operar o máximo de tempo possível. É o que nós queremos, é o que o cliente precisa.

Enquanto não chega um novo produto, o Super ainda tem tempo de vida, mas não estará já nos limites do seu desenvolvimento?

Acreditamos que o Super ainda tem muito tempo para trabalhar. Recentemente, no evento da ANTRAM lançámos o smart dash, pois proporciona toda uma interação entre o camião e o motorista e chegará ao mercado a partir de março. Acontece que todo o potencial do Super ainda não é utilizado ao máximo, pelo que temos de investir ainda mais no treino dos motoristas - o que chamamos de driver coaching. Pois este smart dash possibilitará ao motorista, em tempo real, saber como está a dirigir e se está a utilizar todas as vantagens que a máquina lhe proporciona em termos de economia de combustível. É um produto que já está bem maduro, mas os motoristas ainda precisam de mais conhecimentos para usufruirem de todas as vantagens deste software. Quando lançámos o camião anunciámos que daria uma economia de 8% em consumo, já chegámos aos 10%, e há clientes que nos dizem que já conseguiram atingir os 12%. Então, parece que ainda há potencial para mais. É no que estamos a apostar, em treino proativo, pois ao verificarmos na telemetria que temos no camião verificamos que o cliente pode melhorar o seu rendimento através de mais treino do motorista.

Parece, então, que as duas tecnologias - elétrica e a combustão interna - podem continuar a coabitar ao mesmo tempo...

Acreditamos que sim, que há espaço para as várias tecnologias. Haverá operações em que a transição deve ser imediata, e é isso que avaliamos e estudamos com o cliente. Haverá outras situações para as quais ainda não há infraestruturas para a vertente elétrica. E é aí que volta a entrar o Super.

Mas sendo Portugal de pequena dimensão não é suposto ser mais facilmente adaptável ao transporte eletrificado?

Acreditamos que está iminente essa transição, e é o que temos recolhido dos clientes. Só precisamos de identificar esse potencial, pois a maioria dos clientes ainda não o conhece. Provavelmente, para alguns clientes que utilizam veículos diesel a melhor solução será o veículo elétrico. Temos, igualmente, alguns camiões rígidos elétricos que já estão a operar em outros pontos da Europa, pelo que também temos que explorar essa possibilidade em Portugal. Acreditamos que a transição não está assim tão longe. Ao longo deste ano ano iremos mostrar vários casos de sucesso de entrega de veículos elétricos e como estão a ser utilizados.

E que estratégia tem a Scania para os veículos que podem utilizar outros tipos de combustível?

Temos que apostar muito no biogás, e já estamos a fazê-lo com os autocarros. Cascais serve de exemplo. É uma área para apostar, também no sistema híbrido, e a nível ibérico existe ainda um grande potencial para explorar. Também com o HVO, os nossos veículos estão preparados para o utilizar, ainda que requeira mais postos de fornecimento. Os combustíveis alternativos são de tecnologia comprovada. Dependendo do tipo de operação nós apontamos o que for melhor para o cliente, sempre com o foco na sustentabilidade.

No que se refere aos autocarros, comercialmente como correu o ano?

Também foi um ano espetacular. Fechámos o ano com 70 pedidos, 41 dos quais registados pela própria Scania e os restantes por carroçadores. Temos ainda muito por fazer, pois durante a pandemia muitos veículos ficaram por renovar. A Carris anunciou recentemente que vai renovar uma boa parte da sua frota, com novos veículos a gás e elétricos e nós estaremos prontos para participar nesse processo. Sendo a Scania uma empresa que acredita seriamente na sustentabilidade, entregar um autocarro é um orgulho, pois ele fará com que tiremos vários carros das ruas.

A atenção ao cliente tem sido uma filosofia que a Scania quer reforçar. Em Portugal, até onde é para levar esse cuidado?

É um dos pilares da Scania. ‘O cliente em primeiro lugar’, é um dos nossos valores. E desde que aqui cheguei tenho salientado que essa consciência tem que estar presente em todas as filiais, desde a receção até à oficina. O céu é o limite, e dito assim iremos apostar em estar presentes, também, na casa do cliente com oficina móvel, mas igualmente com oficina da Scania em permanência. O cliente só terá que disponibilizar o espaço, não tendo que se preocupar em levar o camião até à oficina, pois nós já estamos na sua base. Através de diagnóstico remoto já sabemos que intervenção teremos que fazer, para que horas depois possa voltar ao trabalho. Para nós, isso é muito importante.

Estamos também a renovar todas as nossas filiais. Em Vialonga, nos últimos anos, já triplicámos a quantidade de serviços que prestamos. Pensamos no futuro, no aumento do parque de veículos. Fizemos um investimento muito grande para tais remodelações, e aguardamos a construção da nova sede, em Castanheira do Ribatejo, apenas a 17 km de Vialonga, que terá mais do dobro da área de trabalho e será uma obra completamente verde.

O território está bem coberto pelas vossas filiais?

Estamos bem localizados em pontos estratégicos. O parque está a crescer, pelo que teremos que ampliar algumas dessas filiais. Mas não só: em Mangualde já trabalhamos em dois turnos, em alguns locais abrimos ao sábado e já encomendámos mais carrinhas para trabalhos móveis em pontos onde não estamos tão presentes, como no caso de Setúbal para sul.

As plataformas digitais também são uma novidade e estão ativas, mas já se nota a adesão dos clientes?

Já se nota. O importante é mostrar os benefícios. No caso do My Scania, o cliente tem o total controlo sobre o seu quotidiano com a Scania. Na parte da conetividade, hoje, na Scania, não existem barreiras, pelo que o contacto é próximo, tão próximo que podemos alertar o cliente de forma proativa, pois poderemos saber se o camião, a breve prazo, necessitará de alguma intervenção, de maneira que não fique parado na estrada. A conetividade é uma total realidade na Scania.


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