Joaquim Candeias: “Vivo sempre fora da zona de conforto”
Na primeira edição do suplemento de aftermarket «Mais Eurotransporte» falámos com Joaquim Candeias, o executivo que está à frente do bilstein group em Portugal e que é uma das figuras mais influentes do aftermarket nacional e internacional. Leia na íntegra.
Espírito inquieto e ambicioso, sempre um passo à frente do mercado, dispensa as rotinas do dia-a-dia. Admite que trabalhar sem rede já lhe trouxe momentos complicados, mas jamais trocaria novos desafios por velhos hábitos, até porque não sabe viver relaxado. Fora de horas mantém-se disponível e só não atende o telefone se estiver a dormir. Ainda assim, se acordar a meio da noite, não resiste a espreitar a caixa de emails. Mais realista do que pessimista, do futuro só receia a reforma, que o vai obrigar a abrandar o passo, com a vantagem de lhe dar tempo para os netos. Inauguramos a rubrica «Figura Mais» com Joaquim Candeias, o executivo que está à frente do bilstein group em Portugal e que é uma das figuras mais influentes do aftermarket nacional e internacional.
Chegamos antes da hora marcada às novíssimas instalações do bilstein group, na Venda do Pinheiro, e de imediato Joaquim Candeias se reúne connosco. Passo seguro, confiante, telemóvel guardado no bolso. Avisamos que será uma entrevista um pouco mais pessoal e entre sorrisos sai um “veja lá o que me vai perguntar”. Mas não há desconforto perante a incerteza. A experiência de 60 anos de vida e cerca de 40 de carreira profissional deixam pouca margem a perguntas que ainda não tenham sido feitas. Tentemos.
O telemóvel continua no bolso, onde vai permanecer até ao final da conversa. Uma coisa de cada vez. Candeias leva à risca a máxima de Fernando Pessoa: “Para ser grande, sê inteiro [...] Põe quanto és no mínimo que fazes”. Seja numa entrevista, no emprego ou nos seus diferentes cargos associativos, procura dedicar-se em exclusivo ao que está a fazer em cada momento. Enquanto director-geral da subsidiária portuguesa do bilstein group, desenvolve o negócio das marcas febi, SWAG e Blue Print em vários mercados e sabe que “é preciso construir índices de confiança nos parceiros” para consolidar cada marca. Hoje, afiança que “quem trabalha connosco sabe exactamente onde estamos, para onde é que vamos e como é que vamos”.
Rejeita rotinas, mas faz da organização, estratégia e comunicação os pilares mestres da casa. Lidera por gosto e vocação e o entusiasmo que tem pelos projectos que idealiza torna-se contagiante. De brilho nos olhos, leva-nos numa viagem ao âmago do bilstein group, onde as pessoas são a referência mais importante. Explica que é ele quem está à frente e dá a cara, com o apoio de muitos colaboradores que “fazem muitíssimo por mim. Tenho de respeitar muito todas essas pessoas para conseguir ser também respeitado por eles. É o básico”. Da gestão ao armazém, valoriza em doses iguais cada colaborador e arranca invariavelmente as semanas de trabalho com uma reunião geral para fomentar a comunicação interna. “Cada funcionário sabe exactamente quem é o bilstein group, qual é a estratégia e qual é o posicionamento a nível mundial. Não posso aceitar que um colaborador meu que esteja no armazém, ou arrume mercadoria, que à noite vá tomar um café com um amigo e que o amigo lhe pergunte o que é que vendem no bilstein group e ele responda que são umas caixas azuis".
Joaquim Candeias é um livro aberto. Exige dedicação, detesta desonestidade e não deixa recados por dar, porque não consegue viver sem paz de espírito. Confessa que o seu maior defeito é a demora em ultrapassar as discussões com as pessoas de quem gosta e a sua maior qualidade é ser um bom amigo. Do percurso que fez até hoje não mudava uma vírgula. Bom, talvez tivesse tido aulas de dança. No trabalho, não se arrepende de nenhuma decisão que tenha tomado e, ao longo da vida, aprendeu que não as há difíceis, apenas necessárias.
Dedica grande parte do seu tempo ao associativismo pela necessidade de contribuir positivamente para o sector. Na ACAP (Associação de Comércio Automóvel de Portugal) é presidente da Divisão de Peças e Acessórios Independentes e faz também parte da FIGIEFA (Federação do sector do aftermarket com representação política em Bruxelas). Acredita que a ACAP já perdeu o rótulo de «associação de concessionários» e tem hoje muito mais força no aftermarket independente. Age na defesa de um sector “sem deixar que se defendam interesses próprios de empresas, sem que exista um cartel”. Por outro lado, na FIGIEFA, está ligado “ao Parlamento Europeu e aos lobbies que desenvolvemos para defender o nosso sector por si só. Represento um mercado europeu, em que procuro desenvolver acções transversais a todos os mercados”.
Vive com um pé fora de Portugal e aprecia tanto ir como voltar. Adora viajar, com o sentimento agridoce de querer sempre regressar às origens. Veste fato e gravata mais por dever do que por gosto e opta pela informalidade. De sorriso fácil e sincero, é um homem bem disposto, que gosta de fazer rir e que o façam rir. Se pudesse, faria “feliz toda a gente à minha volta”.
Estamos a meio da entrevista e, durante este tempo, ainda não olhou para o relógio. Permanece concentrado e de resposta pronta, gesticulando animadamente ao tom da conversa. Tem uma vida de histórias para contar e outro tanto para descobrir. Assume que gosta de “aprender com toda a gente para conseguir evoluir. Sou extremamente ambicioso, vivo sempre fora da zona de conforto. Penso por antecipação, estou sempre a querer inovar, a querer andar para a frente”. Na falta de uma bola de cristal, faz planos a cinco anos e define atempadamente o futuro. Por isso, as novas instalações já estavam previstas há muito, para evitar a estagnação da capacidade de crescimento do grupo. O espaço de escritórios quadruplicou e o de armazém, para já, apenas duplica, podendo, no futuro, ficar cinco vezes maior. São, segundo o responsável, “alicerces para a continuidade do negócio”.
Alicerce para a empresa e também para o pai é Ricardo Candeias, filho de Joaquim, que ocupa o cargo de director de vendas e marketing e já deu mostras de ter capacidade para “ser um bom líder no futuro”. Actualmente é o «braço direito» de Joaquim no bilstein group. A velocidade dos dias, para o homem que tem «dinamismo» a correr-lhe nas veias é insuficiente. Quando tiver oportunidade, irá perguntar ao Presidente da República onde é que ele arranja tamanha vitalidade.
E já que falamos de encontros improváveis, se por acaso se cruzar com Donald Trump, Candeias vai questioná-lo sobre a opinião que o presidente norte-americano tem de si próprio: “acho que me dava gozo falar um bocadinho com ele”, remata.
Joaquim Candeias tem muita experiência, “mas não quer dizer que saiba tudo”, apesar da grande facilidade de adaptação que tem aos tempos modernos e a tudo o que mudou nestes 40 anos. Quando começou a trabalhar, “o segredo era a alma do negócio e hoje, garantidamente, a partilha é extremamente importante para se poder desenvolver negócios”.
A crise praticamente passou ao lado do sector do aftermarket, “sem grandes oscilações. Na queda não foi muito abaixo e agora na retoma da economia também não vamos tão acima”. Uma evolução própria do aftermarket independente que leva “muitos players a fazer investimento e a olharem para a frente de um modo distinto, até porque vêm aí novas tecnologias, é preciso fazer uma readaptação ao que está a surgir, mas não está a ter o crescimento de outros sectores que caíram imenso nos anos de crise. Está a crescer, mas relativamente pouco”.
E o bilstein group, como define? “Distinto”, reage sem hesitações. “É um grupo que faz a diferença pela sua maneira de estar, por isso, hoje dentro do pósvenda a nível mundial é líder, é distinto. Prima por isso”. Mas haverá mais a fazer e, decerto, por esta altura já estará desenhado na cabeça de Joaquim Candeias.
Despedimo-nos, não sem um convite para visitar a nova casa. Está na hora de ver o telemóvel.