A ANTROP, Associação Nacional de Transportes de Passageiros, expressou graves preocupações sobre a sustentabilidade do setor rodoviário devido a uma dívida do Estado que ultrapassa os 47 milhões de euros. Durante um encontro com a imprensa, o presidente da ANTROP, Luís Cabaço Martins, afirmou que, se a dívida não for regularizada até novembro, os operadores rodoviários poderão suspender a aceitação de passes gratuitos, uma medida que afetaria diretamente os jovens até 23 anos, para quem o passe será alargado a partir daquele mês.
“Desde janeiro de 2024, os operadores têm cumprido rigorosamente as suas obrigações de serviço público, mas o Estado não tem acompanhado essas políticas com o pagamento adequado das compensações financeiras”, afirmou Cabaço Martins. Ele destacou que a dívida coloca as empresas numa situação financeira insustentável, obrigando-as a recorrer ao crédito bancário para manter as operações. A ANTROP exige a regularização imediata dos pagamentos, advertindo que, sem essa liquidação, a suspensão dos passes será inevitável a partir de novembro.
Além das questões financeiras, a ANTROP criticou severamente o lançamento do Passe Ferroviário Verde, que custará 20 euros e entrará em vigor no final de outubro. Este passe permite viagens em comboios Intercidades, mas não abrange serviços suburbanos em Lisboa e Porto. Cabaço Martins apontou que a medida desestabiliza o equilíbrio entre os modos de transporte ao favorecer o setor ferroviário em detrimento do rodoviário. “O serviço de Intercidades da CP concorre diretamente com o Expresso rodoviário, e essa concorrência desleal coloca em risco a sustentabilidade dos operadores de autocarros, especialmente nas rotas mais rentáveis do litoral”, alertou.
O presidente da ANTROP defende que a medida deveria excluir os comboios Intercidades, argumentando que "não temos capacidade para competir com preços tão baixos". Ele prevê que a perda de rentabilidade nessas linhas poderá levar ao desaparecimento de serviços em áreas menos lucrativas ou ao aumento dos preços. “Quando se perde rentabilidade, corre-se o risco de que linhas menos rentáveis desapareçam ou se tornem insustentáveis economicamente”, disse.
A ANTROP, que representa 74 empresas de transportes coletivos rodoviários em Portugal, defende que, ao invés de introduzir medidas avulsas, o governo deveria apostar num plano integrado de mobilidade sustentável, equilibrando todos os modos de transporte. "É crucial que o Governo integre os autocarros de forma estratégica no plano de mobilidade do país, evitando medidas que desestabilizem o setor e prejudiquem as populações que dependem exclusivamente do transporte rodoviário", concluiu Cabaço Martins.