A neutralidade climática nos contratos de transporte de passageiros

18 maio 2024
7min.

Conferência em Madrid organizada pela Gasnam-Neutral Transport, em colaboração com a CONFEBUS e a KPMG, analisou os novos processos de licitação no setor e destacou a capacidade técnico-económica dos gases renováveis para facilitar a conformidade regulamentar.

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Especialistas no setor de transportes e energia pediram uma maior neutralidade tecnológica nos contratos de licitação de transporte de passageiros, para que os operadores possam escolher livremente a tecnologia mais conveniente em cada caso, dependendo do tipo de operação realizada pelo veículo e de sua viabilidade técnica e maturidade de mercado. Esta seria a principal mensagem repetida na conferência "Estratégias de descarbonização nos contratos de transporte urbano e interurbano de passageiros", evento organizado pela Gasnam-Neutral Transport, em colaboração com o CONFEBUS e a KPMG, que juntou quase uma centena de representantes de organismos públicos e empresas privadas.

Mobilidade sustentável

O transporte coletivo de passageiros desempenha um papel fundamental na redução das emissões nas nossas cidades. Atualmente, as administrações públicas estão a rever os contratos de transporte urbano e interurbano de passageiros para implementar tecnologias sustentáveis que lhes permitam cumprir as obrigações de descarbonização. A este respeito, durante a conferência foi salientado que é fundamental ter um roteiro claro que integre tecnologias sustentáveis nos contratos de transporte, tendo em conta tanto a sua eficiência económica como o seu impacto ambiental. Durante a sua intervenção, a secretária-geral da Gasnam-Neutral Transport Eugenia Sillero afirmou que "o desafio de descarbonizar os transportes é de tal magnitude que exige o contributo de todas as energias limpas e um foco na neutralidade tecnológica. As frotas de autocarros que utilizam GNV têm a oportunidade de ser neutras em carbono imediatamente, graças ao biometano e ao gás sintético, soluções que proporcionam alta autonomia, baixo tempo de reabastecimento e competitividade económica, já que não exigem modificações no motor ou na infraestrutura de reabastecimento". Sillero acrescentou que "produzir um combustível a partir dos resíduos gerados no próprio país permite-nos garantir o cumprimento dos objetivos de sustentabilidade e redução de emissões estabelecidos pela Diretiva de Energias Renováveis RED III e representa uma oportunidade para avançar para uma economia circular".

O presidente do CONFEBUS, Rafael Barbadillo, acrescentou que todas as tecnologias de propulsão são necessárias para a descarbonização da atividade (eletricidade, biometano, combustíveis renováveis ou hidrogénio), "porque não existe uma solução única que abranja os diferentes tipos de serviços de transporte rodoviário de passageiros (urbano, pendular, de média e longa distância), pelo que a neutralidade tecnológica é essencial e deve ser acompanhada dos apoios correspondentes ou incentivos fiscais para que o setor possa enfrentar essa importante mudança tecnológica". Também destacou que é preciso gerar um marco regulatório estável que facilite a colaboração público-privada, promovendo fórmulas de revisão de tarifas que prevejam todas as tecnologias utilizadas nos contratos.

Tecnologias sustentáveis

Os fabricantes de veículos, os operadores de transportes e as empresas de energia afirmaram que a chave para uma transição justa é que as tecnologias sejam sustentáveis, razão pela qual é necessário que haja neutralidade tecnológica. O diretor da IVECO Bus, Fabrizio Toscano, falou nesse sentido, apontando que "o GNV e o biometano já são uma realidade nas nossas cidades e continuam a ser alternativas válidas para a descarbonização do transporte interurbano. O hidrogénio será o próximo passo, mas para isso precisará de apoio institucional." O setor também pede maiores incentivos governamentais para adotar soluções de transporte mais sustentáveis. Esta ajuda não deve ser apenas para os operadores, mas também para as próprias administrações públicas que detêm os serviços e são obrigadas a assumir, através das concessionárias, os custos adicionais derivados da regulação que visa reduzir as emissões na mobilidade das pessoas, disse o responsável de expansão e inovação do Grupo Ruiz,  Albino Pérez, que acrescentou que "os incentivos são essenciais devido aos elevados custos de investimento exigidos pelas novas tecnologias energéticas".

O diretor do gabinete de Engenharia e Fundos Europeus da Alsa, Miguel Ángel Alonso, acrescentou que "há necessidade de certeza e continuidade, para reduzir a burocracia, incentivar o CAPEX e OPEX, e neutralidade entre as diferentes tecnologias, bem como entre os diferentes meios de transporte pela Administração". Por seu lado, o responsável pela área de Mobilidade da Naturgy, Óscar Arrazola, sublinhou que a principal barreira é o desconhecimento das diferentes tecnologias existentes e o pressuposto de que a eletrificação é a única forma de descarbonizar, sem entrar na avaliação de outras opções como o biometano, que favorece uma economia circular. Nesse sentido, Arrazola acrescentou que "não podemos descartar a frota de GNV existente porque continua sendo uma opção muito interessante tanto económica quanto ecologicamente falando, com emissões locais quase nulas e 100% compatível com a transição para o gás natural neutro em emissões. E, sem dúvida, hoje, é a única alternativa para o transporte de passageiros de média e longa distância."

O pioneirismo de Pamplona

A sessão contou com a presença do chefe de energia da Comunidade da Região de Pamplona (MCP), Javier Zardoya, que apresentou a história de sucesso do transporte municipal em Pamplona. Esta entidade pioneira em 2014 aplicou o seu "I Plano para a Introdução de Energias Menos Poluidoras nos Transportes Urbanos Regionais (TUC)", em 2016 testou os primeiros autocarros movidos pelo biometano gerado na sua própria estação de tratamento e alguns anos depois assumiu o compromisso de não adquirir mais veículos a gasóleo para começar a descarbonizar completamente a sua frota. Desde 2022, a MCP tem autocarros a gás com garantia de origem e a recém-adjudicada concessão de serviço para a operação do TUC para os próximos 10 anos inclui a descarbonização completa da sua frota (2/3 de biometano e 1/3 de eletricidade) e a sua própria produção de biometano, num projeto de economia circular de referência a nível regional.

PR


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