Truck Spotters: De olho no camião
Leia ou releia o artigo publicado originalmente na edição 108.
Abdicam das folgas, fazem quilómetros para encontrar o melhor «pouso» e chegam a esperar horas para captar a passagem dos veículos pesados. Tudo pela paixão pela fotografia e, claro, pelos camiões. A Eurotransporte esteve à conversa com Luís Rocha, um dos fundadores do grupo Lusotruckfan.pt, uma página no Facebook onde estes «truck spotters» publicam as suas fotos e que hoje conta com mais de 15 mil seguidores.
Faça chuva ou faça sol, sempre que tem oportunidade, Luís Rocha agarra na máquina fotográfica e vai colar-se à A25, zona de Vouzela, “que é relativamente perto da minha residência e a deslocação não se torna demasiado dispendiosa”, diz. As fotos são um hobbie, um vício, mas também um projecto já sólido e cada vez mais sério, que ainda assim não tem qualquer retorno financeiro: “fazemos isto por gosto, por vezes deixamos a família e os amigos e vamos atrás de umas belas fotos pelo país. Tiramos fotos a camiões em todas as perspectivas, sejam elas no seu ambiente natural, a estrada, ou onde se encontrem parados”.
O Lusotruckfan.pt nasce em 2008, como forma de partilha do trabalho realizado nas redes sociais. O grupo de amigos foi crescendo, tal como os seguidores e hoje são mais de 15 mil os que acompanham a página no Facebook. A rotina e os locais habituais dos «spotters» já são conhecidos e não falta quem acene e faça sinais de luzes aos fotógrafos e vá depois à procura da imagem na internet. O arquivo de conjuntos, nacionais e internacionais, é longo, mas o grupo quer chegar ainda mais longe. De há uns tempos para cá, alguns de nós têm-se deslocado voluntariamente às empresas, para “mostrar quem somos e o que fazemos. Assim, autorizam-nos a fotografar os camiões quando quisermos e é uma forma de evitarmos possíveis conflitos”.
Isto porque a actividade da «caça» à foto – mesmo que não tenha nada de ilícita - nem sempre é vista com bons olhos. E se há quem goste, do outro lado da barricada, há também quem não aprecie ser fotografado, ou ver os veículos da sua transportadora na internet. “Vivemos numa sociedade bastante complicada, uns aceitam o nosso conceito, outros apenas criticam e ameaçam”, conta Luís. Pior mesmo, são as entidades ou pessoas que “roubam as nossas fotografias, editam e usam indevidamente”.
Trabalho de paciência
Esperar é uma virtude e os «truck spotters» sabem-no melhor do que ninguém, tal e qual como um caçador que procura a presa.Quando se instalam num local para ver passar camiões, tanto pode ser dia de sorte e de muitos cliques no obturador, como pode ser uma jornada de pouco movimento e veículos de menor interesse.
À Eurotransporte, Luís conta que chegou a estar de olho num camião antigo de lenha durante três anos, até o conseguir encontrar. Uma das suas fotos favoritas é a do reboque de camiões da Aguiar Team, que lhe valeu um agradecimento especial por parte do transportador, o empresário Carlos Aguiar, que mais tarde lhe ofereceu a imagem emoldurada.
Embora não trabalhem para vender as fotos, os cerca de vinte «truck spotters» que compõem o grupo fazem questão de não falhar nenhuma concentração de camionistas. Apesar de apenas metade fotografar frequentemente e produzir conteúdo diário para a página do Facebook, é nesses encontros que se juntam todos, para confraternizar e partilhar experiências. Obviamente, sempre atentos aos camiões, uma vez que estas concentrações são ocasiões únicas para fotografar edições especiais, exemplares antigos ou personalizados que raramente saem da garagem. Ao longo de mais de dez anos, além dos inúmeros registos fotográficos, ficam também as amizades que se foram estabelecendo, entre fotógrafos, motoristas e empresas. O desejo de todos os que participam no projecto é comum: “que um dia possam olhar para as fotografias e recordar a sua própria história”.
À caça do camião
Luís Rocha é natural de Vouzela, distrito de Viseu, e está na génese do grupo Lusotruckfan.pt. Filho de motorista de longo curso, cedo se interessou pelos camiões e, na impossibilidade de correr a Europa na estrada com o pai, como fazia quando era mais novo, aos 30 anos está de corpo e alma no projecto de truck spotting. O objectivo, diz, é que o conceito seja “venha a crescer e que seja divulgado por todas as entidades e motoristas, para que nos vejam sempre com bons olhos”.