Transporte de grande capacidade: À conquista da União Europeia
Defensores do projecto alertam para as eventuais vantagens económicas e ambientais. Estudos realizados nos últimos anos revelam que o futuro dos fretes rodoviários passa por este tipo de transporte, sendo sugerida a criação de uma rota europeia para veículos de grandes dimensões.
O transporte de mercadorias por via rodoviária está em transformação. Para a União Europeia, nos próximos anos, prevê-se que o número de fretes aumente substancialmente. Para minorar os efeitos da poluição e evitar o congestionamento das vias de comunicação aponta-se como principal alternativa a utilização de camiões de maiores dimensões, capazes de transportarem mais carga ao mesmo tempo que se reduzem os custos e as emissões de carbono.
Um estudo da European Automobile Manufacturers Association (ACEA), que deverá ser apreciado em breve pelos peritos da União Europeia, faz não só um levantamento da actual situação rodoviária relativamente ao transporte de mercadorias, como aponta soluções para, a curto e médio prazo, se rentabilizarem meios, reduzirem custos e, em simultâneo, deixar uma pegada bem mais ecológica.
As peritagens que têm vindo a ser feitas mostram que com o actual sistema de transporte rodoviário (realizado com camiões de menor capacidade de carga do que os propostos – cuja utilização até já foi testada em diversos países europeus e também nos EUA e Austrália) é um dos principais factores de poluição nas estradas europeias. É que se em algumas vias os camiões apenas serão responsáveis por 5% das emissões de carbono, noutras os valores ascendem a 50%.
Com a utilização de viaturas de maiores dimensões e, por conseguinte, com maior capacidade de carga, espera-se a redução do tráfego, dos congestionamentos e menos degradação das estradas. Dizem os técnicos que nem sequer será necessário efectuar grandes transformações nas vias de comunicação (situação que se tornaria bastante dispendiosa), bastando apenas trabalhos pontuais, nomeadamente no que se refere ao alargamento de algumas pontes. Tornar mais eficientes os percursos já utilizados é uma das apostas.
Designados como amigos do ambiente, os veículos agora propostos para efectuarem fretes no espaço europeu poderão, de acordo com os peritos da ACEA, ser responsáveis por diminuições nas emissões de carbono na ordem dos 15 a 40%, consoante os locais por onde circulam. Os levantamentos já efectuados dizem que as poupanças a nível europeu estarão sempre condicionadas à penetração nos mercados, mas salientam, por exemplo, que haverá sempre vantagens na utilização dos camiões de grandes dimensões mesmo regionalmente.
Convencer os decisores políticos
Uma das grandes apostas da ACEA passa por convencer os decisores políticos das vantagens que estes camiões podem acarretar. Assim, tendo como base as experiências já efectuadas nos EUA, em 2016, em Espanha, em 2014 e na Suécia, um ano antes, serão enviados relatórios detalhados aos responsáveis das diversas comissões intervenientes no processo. Esses relatórios abordam áreas diversas, sendo uma delas a da necessidade de serem criados mecanismos que promovam o reforço das ligações intermodais de transporte. Para além de se sugerir uma ainda maior articulação com os transportes ferroviários, pretende-se igualmente reforçar a colaboração com os meios marítimos, nomeadamente com os palangreiros (navios de pesca).
Para as próximas décadas estima-se um elevado crescimento, no espaço europeu, do mercado de transportes, pelo que a criação de projectos e trajectos intermodais é uma das medidas preconizadas. Os defensores dos camiões de grande capacidade de carga alertam, desde já, para o facto de também o transporte por via marítima, sobretudo de contentores, vir a aumentar significativamente, proporcionando mais solicitações aos veículos pesados.
Questões relacionadas com a saúde (nomeadamente as doenças respiratórias) são igualmente abordadas nos levantamentos já efectuados. Dizem os autores dos estudos que é necessário que os políticos tomem consciência de que com a utilização de camiões maiores haverá menos poluição e, em consequência, menos doenças. Por outro lado, serão ainda fornecidos dados detalhados que abordam questões como o congestionamento rodoviário, o desgaste das infraestruturas (estradas e pontes) e, evidentemente, o impacto económico resultante do suposto aumento da produtividade e da esperada maior competitividade quer a nível internacional, quer em relação aos fretes feitos regionalmente.
Com a introdução de camiões de maiores dimensões espera-se igualmente que diminuam as horas de condução. Tal facto, de acordo com os técnicos da ACEA, irá contribuir para resolver o problema da falta de condutores profissionais na Europa.
Voltando ao aspecto financeiro, os defensores dos camiões de grande capacidade de carga entendem que a União Europeia ficará com muitas mais condições para ombrear competitivamente com outras regiões do mundo, uma vez que com a crescente utilização destes veículos haverá, obrigatoriamente, uma redução de custos e o surgimento de soluções logísticas de entrega mais eficientes.
A adopção destas viaturas representa, por outro lado, a chegada de novas tecnologias.Para prevenir a sinistralidade e os danos nas vias rodoviárias é aconselhada a introdução e regulação de um conjunto de normas que garantam as boas práticas, sejam elas de condução, sejam de concepção dos veículos.
Mais segurança nas estradas e incentivos
A prática, segundo os estudos já conhecidos, demonstra que a utilização de veículos de grande capacidade de carga reduz a sinistralidade rodoviária. Dizem os peritos da ACEA que esta é uma conclusão que contraria o que seria expectável por parte da opinião pública, mas que acabou por ser confirmada após anos de testes efectuados em diversos países.
Apesar dos resultados animadores, os defensores deste projecto entendem que ainda existe espaço para aumentar a segurança rodoviária, sendo que a formação específica para condutores de veículos de grande capacidade de carga é uma das medidas preconizadas.
Por outro lado, de modo a que sejam preservadas ao máximo as vias de comunicação por onde irão circular as viaturas pesadas, sugere-se que as autoridades rodoviárias efectuem um controlo rigoroso dos eixos e peso. O facto dos camiões a utilizar serem mais compridos fará com que tenham mais eixos dos que os veículos standard e que a carga transportada vá mais dispersa, pelo que os eventuais danos nas estradas serão menores.
A ACEA entende que é necessário melhorar os sistemas de monitorização e uniformizá-los no contexto europeu. Entendem os seus responsáveis que o uso indiscriminado, nas estradas públicas, de veículos longos e pesados sem qualquer restrição, já não é uma opção. Veículos de grande capacidade só deverão operar em determinadas vias. Os sistemas para determinar localizações e conformidades legais, tal como o cumprimento de horários, são fundamentais. Os técnicos apontam o sistema de monitorização usado na Austrália como sendo um dos mais eficazes e que poderia ser adoptado no espaço europeu.
No que respeita aos incentivos, de modo a que os veículos de grande capacidade se firmem no mercado, entendem os defensores da sua utilização que estes não devem ser alvo de penalizações financeiras. Lembram que um só desses camiões pode substituir dois dos carros convencionais combinados, pelo que esse aspecto deve ser tido em conta na aplicação de taxas. Argumentam ainda que o facto de serem muito menos agressivos para o meio ambiente também deve ser levado em consideração.
Por fim, a ACEA lembra que já há diversos países na União Europeia que aceitaram a circulação dos veículos de alta capacidade. Entre eles contam-se a Bélgica, a Dinamarca, a Finlândia, uma parte da Alemanha, a Holanda, Portugal, Espanha e Suécia. A criação de uma rede viária europeia para este tipo de transporte é, pois, uma medida em estudo e que se pretende adoptar.
Autor: José Bento Amaro