---

O desafio da eficiência nos armazéns de e-commerce

Um dos processos mais críticos da logística de e-commerce assenta naquilo que se denomina de processo de picking em armazém.

O picking é realizado por pessoas (os pickers) e consiste na recolha dos artigos que se encontram nas estantes de um armazém para compor cada encomenda de cliente, imediatamente antes desta seguir viagem até ao seu destino.

O processo de picking é crítico numa operação de e-commerce porque as encomendas dos clientes querem-se satisfeitas cada vez mais rapidamente, desde a sua aceitação num website online até à entrega em casa. Pelo meio estão duas grandes operações: o picking em armazém e o transporte até ao destino. 

O picking em armazéns de e-commerce enfrenta os seguintes desafios:

a) Pequenas quantidades: as encomendas realizadas online são tipicamente de pequenas quantidades de cada referência, sendo que em vários segmentos como o da multimédia são de apenas um artigo no total (e.g., uma consola de jogos).

b) Muitas referências distintas: uma vez que os artigos dispostos numa loja online não ocupam espaço como ocupam numa loja física, os comerciantes podem apresentar um sortido muito superior de produtos, incluindo produtos de nicho que não podem ser facilmente encontrados em lojas físicas.

c) Curtos períodos de preparação: as entregas do canal online querem-se para o próprio dia da encomenda, ou para o dia seguinte no máximo. Isto cria uma pressão constante nos processos de pickingporque os tempos se medem em horas ou minutos e não em dias.

d) Procura oscilante: a sazonalidade tem uma influência grande em muitos segmentos de negócio de e-commerce. O Natal, o Verão, e alguns outros eventos têm impacto significativo no volume de encomendas recebidas ou mesmo no destino das entregas. Isto constitui um desafio porque o desenho e a capacidade de processamento do armazém requerem flexibilidade para escalar nesses períodos sem necessariamente incorrer num aumento constante dos custos fixos ao longo do ano inteiro.

Os processos de picking dos armazéns convencionais de grande distribuição dificilmente se adaptam aos armazéns de e-commerce. Com efeito, é pouco eficiente que o picker tenha de percorrer grandes distâncias dentro do armazém a recolher artigos de estantes para uma zona de consolidação central de cada encomenda, e que cada encomenda fique entregue a um só picker. O tempo improdutivo percorrendo distâncias dentro do armazém torna-se muito limitativo para a velocidade a que uma operação de e-commerce ambiciona satisfazer as suas encomendas.

Por este motivo, os armazéns de e-commerce têm desenvolvido novos modelos de desenho e operacionalidade, dos quais se destacam os seguintes.

1. Modelos de picking à zona e de picking por lote

Com o objectivo de minimizar as distâncias percorridas pelo picker entre as estantes e uma zona de consolidação da encomenda, foram desenvolvidos modelos alternativos como o picking à zona e o picking por lote.

No picking à zona cada picker movimenta-se apenas numa região delimitada do armazém e tem a seu cargo a preparação da parte de cada encomenda que corresponde aos produtos que estão armazenados nessa zona. Desta forma a preparação de uma encomenda é partilhada por várias pessoas consoante a variedade de produtos que contém. Tal implica a existência de uma zona de consolidação de cada encomenda, ou mesmo mais do que uma zona caso cada encomenda completa ainda tenha de ser consolidada posteriormente com outras da mesma rota.

No picking por lote, em cada rota o picker vai fazendo o seu percurso pelas estantes do armazém recolhendo artigos para satisfazer várias encomendas. No final de cada percurso regressa a uma zona de consolidação para os distribuir pelas várias encomendas em preparação.

Os dois modelos de picking à zona e picking por lote podem ser adoptados em simultâneo, e é assim que muitos armazéns de e-commerce trabalham actualmente.

Estes modelos têm as desvantagens de serem necessárias zonas de consolidação (que ocupam espaço no armazém e tempo de preparação) e estão altamente dependentes da força de trabalho disponível. Uma vez que o armazém está dividido em zonas, e que cada zona tem espaço reservado para uma referência de produto, é frequente observarem-se zonas vazias aguardando pela reposição do stock do produto correspondente. Tal traduz-se em ineficiência de utilização do espaço disponível, e por esse motivo alguns segmentos de comércio online adoptaram o modelo seguinte.

Fig 1

Armazém convencional não adaptado para e-commerce

 

2. Modelo de armazenagem dispersa (scatteredstorage)

Num modelo de armazenagem dispersa cada produto é armazenado em mais do que um local do armazém, de preferência da forma mais dispersa possível. A ideia é minimizar os tempos de deslocação entre a recolha de dois artigos no percurso de um picker. Assume-se que estando os artigos espalhados há uma maior probabilidade de encontrar o próximo a partir de uma qualquer localização, e que tal é preferível a obrigar o picker a dirigir-se constantemente à zona de consolidação de encomendas.

Este modelo é adoptado por exemplo pela Amazon, Zalando, entre outros, e adapta-se bem à natureza das encomendas destes comerciantes: pequenas quantidades de um enorme sortido disponível.

O percurso do picker é determinado por um sistema que lhe vai dando instruções de onde se dirigir para encontrar o próximo artigo, através de comandos por voz (voicepicking) ou através de um dispositivo móvel.

Na imagem seguinte é bem visível o modelo de dispersão dos artigos, por exemplo no primeiro corredor em baixo e à esquerda na imagem estão caixas de fraldas “Pull-Ups” e as mesmas podem ser encontradas dois corredores mais acima, no topo central da imagem. Aliás, não são os únicos artigos que se podem identificar repetidamente na mesma imagem.

Este modelo exige uma coordenação elevada entre os pickers e o sistema central que lhes indica os locais onde se dirigir a cada passo, sem o qual estariam perdidos.

Fig 2

 Armazém da Amazon em Peterborough e a sua armazenagem dispersa em separadores de cartão (Crédito: Geoff Robinson)

 

3. Modelo de picking dinâmico

Os modelos anteriores pressupõem que as rotas de picking estão bem determinadas quando o picker as inicia, e que não são alteradas durante a sua execução. Isto significa que durante o período de picking quaisquer alterações ao plano estão proibidas, e com isso as encomendas são preparadas e enviadas em “ondas de expedição”. Ou seja, os pickers preparam um conjunto de encomendas que são despachadas para as rotas correspondentes e consequentemente entregues pelas viaturas que lhes são designadas, para depois começarem tudo novamente naquilo que se designa de onda seguinte.

Num contexto de e-commerce este paradigma pode ser limitativo quando se pretende satisfazer um consumidor cada vez mais exigente que pretende encomendar o mais tarde possível e receber tão depressa quanto possível (e, já agora, pelo menor custo ou mesmo gratuitamente!).

O modelo de picking dinâmico permite que um consumidor crie a sua encomenda online e imediatamente seja transmitido aos pickers uma nova rota de picking que a passe a contemplar. Ou seja, a cada nova ordem que surja o percurso que o picker está a realizar pode ser alterado de forma a incorporar as novas recolhas em estantes com as que ainda estariam por realizar do percurso originalmente concebido.

Este conceito permite que as ondas de expedição não sejam limitativas de aceitar encomendas muito urgentes ou que por serem adjacentes a outras já criadas podem ser satisfeitas rapidamente e com um custo de entrega muito menor.

O modelo de picking dinâmico conjugado com um planeamento de rotas optimizado, ambos executados em tempo real em função das encomendas que vão sendo recebidas num website de e-commerce são as principais características de uma operação logística que permite realizar entregas no mais curto espaço de tempo possível, maximizando assim a captação de clientes através da sua rápida satisfação ao menor custo possível.

Fig 3

 Repetição do mesmo artigo em várias zonas do armazém (Crédito: Geoff Robinson)

 

Leia também:


Autor:
Tags

Recomendamos Também

Revista
Assinaturas
Faça uma assinatura da revista EUROTRANSPORTE. Não perca nenhuma edição, e receba-a comodamente na usa casa ou no seu emprego.