Como reduzir emissões de CO2 nas suas rotas (e poupar combustível)?
O ambiente é uma preocupação global. Talvez por ser uma preocupação partilhada seja mais negligenciada do que se fosse uma preocupação particular de cada um, mas a consciência ambiental colectiva tem vindo a crescer recentemente.
Por isso mesmo o sector do transporte de mercadorias tem um desafio importante pela frente.
Não só porque a utilização de veículos pesados é bastante poluente, mas também porque a sua utilização é profissional e bastante intensa.
A primeira medida em que pensamos é a substituição da frota por veículos eléctricos, por motivos
evidentes. No entanto, isso tem um custo de transformação elevado. É uma barreira para muitas empresas que simplesmente não podem suportar a aquisição de uma frota nova. E, se uma opção não for viável financeiramente, muito dificilmente será seguida sob pena de colocar a existência da própria empresa em risco. É certo que também existe um benefício financeiro evidente com a redução do custo de reabastecimento. Recarregar um veículo eléctrico custa sensivelmente 40% de reabastecer uma viatura de combustível. Os remanescentes 60% de poupança serão necessários para amortizar o custo de investimento inicial ao longo do tempo. Mas há mais. Um veículo eléctrico não tem ainda a mesma autonomia de um veículo a combustão. Isto significa que uma viatura que antes partia de um centro de distribuição ao início do dia para somente regressar no final da jornada de trabalho pode agora ter de regressar a meio do dia para recarregar baterias (uma ou mais vezes). Isto implica maiores distâncias percorridas (regressar ao centro e voltar à rota), mas também tempo perdido adicionalmente nessas viagens e recarregamentos. Esse tempo tem um custo significativo. Não só pelas horas de trabalho desperdiçadas, mas também porque havendo um compromisso de hora de entrega com os clientes isso pode implicar a necessidade de usar mais viaturas e motoristas para satisfazer os mesmos clientes. A poupança de 60% em custos de combustível é suficiente para viabilizar a transição? É preciso fazer uma boa simulação da operação logística e fazer as contas para cada caso particular.
A transição para veículos eléctricos é a única opção para reduzir emissões?
Não. É seguramente a opção que reduz mais emissões, estimando-se que as reduza em 63%, mas não é a única forma de contribuir para a redução. As empresas que têm a preocupação de optimizar as suas
rotas já estão a reduzir emissões há anos. A optimização de rotas através de algoritmia e inteligência artificial especializados permite abrir pelo menos 3 caminhos alternativos para reduzir emissões de CO2 e consumos de combustível.
1.Minimização das distâncias totais percorridas
Ao planearmos as rotas da forma mais eficiente estamos a garantir que cada viatura da frota segue
a melhor sequência possível para realizar todas as suas visitas. Um sistema de planeamento e
optimização de rotas consegue determinar sequencias de visita em média 10% mais eficientes do
que as determinadas por um humano, mesmo com muita experiência no assunto. Para visitar três
clientes existem seis rotas possíveis alternativas. Se forem 10 clientes, existem 3 628 800 rotas
possíveis. Se forem 30 clientes existem 2,65 x 1032 rotas possíveis. Este número é 2650000000...0
com 32 zeros!
A experiência de um planeador de rotas permite eliminar milhões destas combinações
imediatamente. Mas, escolher sempre a melhor destas opções todos os dias, com todas as regras
e restrições de tráfego, é muito ambicioso para alguém conseguir garantir. Um sistema de
planeamento e optimização de rotas consegue realizar muitos milhões de cálculos a mais do que
um humano, por segundo. E os algoritmos mais recentes de inteligência artificial têm a capacidade
de aprender e decidir como um humano faz. Mas em média encontram rotas que percorrem menos
10% de kms. Isto traduz-se numa redução equivalente das emissões de CO2 e dos consumos de
combustível.
2. Minimização das viaturas utilizadas
Consideremos, por exemplo, uma frota de 100 viaturas com uma taxa de ocupação média de 90%.
Isto quer dizer que as viaturas são carregadas com a quase totalidade do seu espaço disponível
ocupado. Mas não com a totalidade. Um sistema de planeamento e optimização de rotas tem a capacidade de conjugar melhor as várias entregas ao longo das viaturas da frota de forma a maximizar a utilização do espaço disponível.
Se a taxa de ocupação média aumentar apenas 1% isso significa que a carga de pelo menos uma
das 100 viaturas terá sido diluída pelas restantes, e assim por diante. Na perspectiva de emissões
de CO2 estamos a tirar carros de circulação. É talvez a única forma de poupar 100% das emissões: não circular de todo. Infelizmente não a podemos aplicar para a frota toda!
3. Utilização de percursos eficientes
Quando escolhemos um percurso entre dois locais temos habitualmente a opção pelo caminho mais rápido ou pelo caminho mais curto. Nem sempre são o mesmo porque, se formos por autoestrada, podemos percorrer mais quilómetros mas como vamos mais depressa chegamos mais cedo.No entanto, há uma terceira opção, o caminho mais ecológico. Este caminho observa somente os consumos de combustível e considera uma variável adicional, a elevação dos troços de estrada. Sabemos que fazer 1 Km numa estrada em linha recta implica consumos de combustível distintos se a estrada for a descer, plana ou a subir com uma inclinação de 1%, 6% ou 9%. Portanto, quando determinamos o caminho mais ecológico teremos tendência a escolher o caminho que evita troços de estrada com inclinação acentuada, num equilíbrio entre a distância que cada troço adiciona ao percurso total e a sua inclinação. Também este tipo de caminhos pode ser obtido com sistemas eficientes de planeamento e optimização de rotas. Esta opção por caminhos mais eficientes traduz-se em reduções de cerca de 5% dos consumos globais e das emissões de CO2 associadas.
A transição ecológica faz-se todos os dias
Não é necessário aguardar por um plano de investimento em viaturas eléctricas para começar a reduzir
emissões de CO2, ou para reduzir o consumo de combustível. Não é necessário aguardar pela evolução
das viaturas eléctricas para gerir uma frota da forma mais eficiente possível. É certo que tal representa um passo significativo no objectivo da proteção do ambiente, mas não é a única acção que pode ser tomada. A utilização eficiente da frota, através de sistemas de planeamento e optimização de rotas avançados, permite assegurar num curto espaço de tempo uma redução significativa de consumos de combustível e correspondentes emissões de CO2. Se a preocupação com o ambiente é efectiva, a acção também deve ser. Podemos não conseguir resolver tudo o que queremos, mas temos a obrigação de resolver o que podemos.