A necessidade aguça o engenho
É assim que diz o velho ditado. E recentemente, quando sentimos a falta de combustível nas estações de abastecimento, muitos de nós tiveram de começar a improvisar e a arranjar alternativas para ir para o trabalho, para viajar, fazer entregas e outras deslocações de âmbito pessoal e profissional.
É muitas vezes em tempos de crise que o desespero e a falta de recursos faz nascer novas invenções e daí surgirem novas oportunidades. De certeza que alguns negócios ou actividades irão, a partir desta crise de abastecimento de combustíveis, repensar a forma de evitar que uma futura crise acarrete iguais prejuízos. Já o «jet fuel» começava a escassear nos aeroportos e alguns reviam a forma de o fazer chegar das refinarias através de «pipeline» em vez do transporte rodoviário. Já com a greve dos estivadores, descobrimos que parando os portos o país deixava de escoar as mercadorias principais do motor da nossa economia, em particular as viaturas fabricadas na Auto-europa em Palmela e começou a pensar-se na linha férrea alternativa com ligação a Espanha. E quem circula nas grandes cidades portuguesas percebe facilmente que basta por vezes um acidente numa das vias de entrada ou saída para o tráfego ficar um caos numa qualquer manhã ou final de dia. O mesmo ocorre nos comboios quando um acidente numa passagem de nível afecta de imediato toda a linha e todas as composições que nela circulam.
Afinal são bons exemplos do que se chama resiliência, ou seja, a condição que um sistema deverá possuir para resistir a problemas, falhas ou a crises. O princípio aplica-se a todo o sistema rodoviário e ao tráfego de pessoas e mercadorias e quando tentamos avaliar a resiliência de alguns sistemas em Portugal, percebemos que está cheio de falhas e que muitas das nossas infra-estruturas não são resilientes.
Foi, portanto, devido a esta crise dos combustíveis que muitos começaram a dar mais valor aos diferentes tipos de motorizações. Primeiro aos motores a gasolina, que representam 50% do mercado automóvel, mas que têm acesso a cerca de 30% do produto disponível nas bombas de abastecimento, pois como sabemos, em cada posto com três mangueiras, em média duas são de gasóleo, normal e premium, e uma de gasolina 95. Já o gasóleo representa cerca de 49% da frota de veículos e mais de 60% do combustível disponível é para eles. Mas foi em especial neste período de falta de combustíveis que alguns deram mais valor aos veículos eléctricos e híbridos.
A energia eléctrica estava afinal disponível em praticamente todo o lado e a toda a hora e era uma fonte de energia alternativa para o transporte, apesar de representar menos de 1% da frota em circulação. Se podemos dar valor em particular a uma tipologia de veículo, que afinal se mostrou mais resiiente neste período de greve na distribuição de petróleo e seus derivados, ainda que com uma autonomia ainda limitada, é ao PHEV ou híbrido plug-in que pode andar com gasolina ou gasóleo e com electricidade.
É este, na minha perspectiva, o futuro próximo do veículo com menores emissões e mais autonomia disponível, com um senão de eficiência, o peso. São mais de 1500 kg só em motores, órgãos de transmissão e baterias. E o problema dos automóveis eléctricos já não é a disponibilidade de abastecimento ou a autonomia, apenas o excessivo tempo de carregamento.
*Texto originalmente publicado na Edição n.º 110 da Revista Eurotransporte