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E = m.c2 ou como otimizar o desempenho dos condutores

Pode encontrar este artigo, assinado por António Macedo, na Eurotransporte N.º 132.

O que é que Einstein tem a ver com o desempenho em condução? Nada! Aliás ele nem tinha carta nem carro, e enquanto viveu nos estados unidos teve de arranjar um motorista para as suas deslocações. Mas a sua fórmula da relatividade, tal como o nome indica - permitindo-me alguma liberdade no uso do conceito e «relativizá-la» - inclui apenas três letras numa pequena e simples equação:  E = M x C2 

Em português e num mero contexto gramatical, usando as unidades da equação agora aplicadas à condução, tomemos «E» por eficiência, «M» por motivação e os dois «C» por competência e contexto (c2 = c x c). E «relativizando», então, a famosa equação, encontraremos a fórmula para a eficiência na condução ou, descrevendo doutra forma, para a qualidade do desempenho em condução (QDC).

Como podemos aplicar este conceito, e a tão avançada fórmula da relatividade, ao dia a dia das empresas comerciais, de assistência técnica, de transporte ou de distribuição?  Em que aspetos estas quatro letras implicam na tal qualidade da condução?

Antes de explicar como se aplica este conceito à condução, tentarei explicar o que é necessário para alguém conduzir bem e quais são os componentes base desta atividade exigida na condução de uma viatura automóvel, e que aparentemente pode ser executada por praticamente todos os cidadãos, legalmente a partir dos 16 anos.  

Apesar de existirem diversas tentativas académicas e científicas para definir a atividade que implica a condução de uma viatura, de acordo com a matriz GDE (goals of driver education) adaptada pela UE como base para o ensino da condução, usada como sustentação do atual modelo de ensino em Portugal, a tarefa da condução pode ser dividida em quatro níveis: operacional, tático, estratégico e atitudinal. Apesar de este modelo apresentar as componentes por esta ordem, irei abordá-las por aquela que me parece ser a sua ordem lógica de uso e aplicação.

Começo pelo nível «estratégico» que implica uma abordagem em níveis e momentos diferentes. Refiro, num momento preliminar, o planeamento da deslocação e dos recursos necessários, aplicada antes de se iniciar a condução, quando o condutor (ou quem o coordena) procura resposta a questões como o motivo da deslocação, definição do destino ou destinos intermédios, do modo de transporte adequado, dos recursos necessários, da duração e do horário, da seleção do percurso mais rápido… ou mais barato, e por vezes até, se tem de ser feita a revisão do carro, se há necessidade de consultar um mapa para conhecer a zona para onde viajará, etc. Durante a condução, este nível é utilizado, por exemplo, para planear as paragens para abastecimento, para alimentação ou descanso, entre outras.

Enquanto conduz, as necessidades do condutor são outras e alteram-se a cada momento durante a viagem, sendo aplicado o nível tático, relacionado com as decisões que o condutor tem de tomar, relativas aos eventos que vão ocorrendo na estrada, das condições de tráfego, da seleção da via em que circula, da sinalização que deve fazer, da posição e da velocidade a que deve deslocar-se, da necessidade de alterações ao trajeto, da aplicação e cumprimento (ou não) das regras, de alterações de velocidade, de percurso e de trajetória, entre muitas outras.

Estes dois níveis «tático» e «estratégico» são frequentemente influenciados pela componente «atitudinal», que afeta diretamente o comportamento e o desempenho do condutor em cada momento. Deste nível atitudinal, e para aquilo que ele implica com a condução, são fatores relevantes a educação, a cultura, a personalidade, o caráter, a formação, o treino ou outros fatores de ordem comportamental.

De regresso à fórmula inicial, veremos agora o enquadramento do «M» de motivação. Porventura conhece, ou já conheceu, uma pessoa educada e simpática na sua relação com os outros, mas que se transforma ao volante do carro, assim uma espécie de Dr. Jekill e Mr. Hyde. Pois, a motivação é o móbil para a alteração do comportamento. E esta alteração provavelmente acontece e resulta das necessidades que essa pessoa tem em cada momento, do seu estado emocional, dos seus receios, da falta de experiência, da dificuldade em gerir momentos de condução difíceis e exigentes.

Mas até os condutores profissionais, quando, por exemplo, os objetivos de uma viagem não estão a ser cumpridos (p.e. se o nº de visitas previstas aos clientes não está a ser atingido), provavelmente motivarão o condutor a conduzir mais depressa, a procurar atalhos, a deixar de cumprir algumas regras ou deixar de se preocupar com a poupança de combustível.

E finalmente, o nível «operacional» da matriz GDE, onde se incluem as tarefas diretamente relacionadas com o controlo e condução da viatura, implicando a atividade sensorial, cognitiva e motora que permite ao condutor (operador da máquina) gerir os comandos (volante, pedais, alavancas, interruptores, etc.) necessários para dirigir a viatura ao destino pretendido, dando-lhe velocidade, direção e pará-lo, quando necessário. Evidentemente que conduzir uma viatura implica também controlos de sinalização (buzina, piscas, luzes), de visibilidade (luzes, limpa vidros, espelhos, desembaciadores, ...), de conforto, comunicação e outros com diferentes objetivos.   

E de regresso à nossa equação, passemos à primeira letra «C», de contexto. A condução implica uma viatura e um espaço onde se deslocam. Quando a deslocação é efetuada em «contexto» de trabalho, temos de acrescentar as necessidades profissionais dessa deslocação às componentes anteriores. Incluímos então no contexto, o tipo e as condições da viatura usada, a cultura e as exigências da empresa, a qualidade do ambiente rodoviário, etc.   

E finalmente o «C» de competência. E, neste nível, infelizmente muitos empregadores apenas verificam apenas se o colaborador contratado possui licença legal e atualizada para realizar uma função que exige conduzir uma viatura. Não se verifica o cadastro de infrações do condutor ou o seu histórico de sinistralidade, muitas vezes e apenas lhe é questionado se «tem experiência», mas nem sempre é validada a «qualidade» dessa experiência.

Pois se o seu objetivo é aumentar a eficiência da sua frota, isso passa por aumentar a eficiência da condução dos seus colaboradores e deverá aplicar, no sistema de análise e gestão da frota, este novo indicador, a QDC - Qualidade do Desempenho em Condução.


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