Horas no trânsito: Vantagens da autonomia ao volante
Quantas horas por dia passa no trânsito? Será que a capital portuguesa é um dos locais com mais engarrafamentos na Europa? António Macedo diz-lhe quais os piores locais para conduzir.
Se possui computador de bordo no seu carro, provavelmente já se apercebeu que, mesmo fazendo muitos quilómetros em auto-estrada, próximo dos 120 km/h, a sua velocidade média no fim do dia não deve andar longe dos vinte e tal ou trinta e poucos quilómetros por hora. E se conduz e circula numa grande cidade, sente que cada dia que passa o trânsito se vai tornando cada vez mais insuportável.
Quem trabalha na cidade e mora fora dela sabe bem o significado de bicha, fila, engarrafamento ou simplesmente trânsito congestionado. É pegar no carro para ir a qualquer lado, mas bem devagar, no «pára-arranca» ou parado! Esta é uma das condicionantes de se ter viatura própria e de se enquadrar na categoria dos “comutadores”, ou seja, aquelas pessoas que diariamente efectuam o percurso casa/trabalho/casa, normalmente todas as manhãs e ao fim de cada dia. Os congestionamentos de trânsito são na sua maioria sintomas de ineficácia, de desperdício, de deficiente gestão viária. São também causa de desespero, de raiva, de stress para milhares de condutores e passageiros. Para não falar nos toques, batidas, colisões em cadeia e outros incidentes provenientes dos engarrafamentos.
E ao chegar ao seu destino, outra dor de cabeça afecta os muitos condutores: o estacionamento. Este pode ser livre, condicionado, pago ou em transgressão selvagem, dependendo do local e da hora. Mas por vezes não é a forma, mas a sua (in)disponibilidade, que pode transformar o fim da viagem num suplício, encontrar um lugar para deixar o carro, durante o dia ou durante a noite.
Quem circula diariamente nas áreas metropolitanas de Lisboa, do Porto ou de outras grandes cidades nas chamadas horas de ponta, sente de certeza estes problemas. De dia para dia diminuem o número de lugares disponíveis e aumentam as zonas de estacionamento condicionado e pago.
A cada mês que passa, o número viaturas em circulação aumenta mais um pouco, e ainda não chegámos aos níveis de trânsito anteriores à crise! Estes são os dois maiores problemas relacionados com a mobilidade moderna, individual ou colectiva: o volume excessivo de trânsito e o estacionamento.
Mas se sente que o trânsito à sua volta é um inferno, então pense duas vezes, pois Portugal até se encontra no grupo dos países europeus ou desenvolvidos com uma das mais baixas taxas de engarrafamentos.
E a novidade chegou-nos pela Tabela Global de Tráfego da INRIX, uma empresa que desenvolve aplicações para sistemas de navegação e para telemóveis e que recebe e trata dados sobre o movimento de veículos com base nos dados provenientes dos sistemas de navegação e dos telemóveis de mais de 300 milhões de veículos e de cidadãos anónimos em todo o mundo1. Esta empresa mantem nesta tabela classificativa dos volumes de tráfego, o chamado «índice de congestionamento» das 1360 cidades «controladas» em todo o mundo. Indicadores como o tempo gasto em engarrafamentos ou a percentagem de tempo que cada condutor, em média, perde em congestionamentos de trânsito, são alguns dos dados que podemos consultar cidade a cidade.
Na base destes cálculos estão potentes algoritmos e condições tais como a definição de congestionamento de trânsito, quando num determinado local o tráfego de veículos se processa a uma velocidade 65% mais baixa do que a expectável para o local2. Na tabela publicada este ano surge Los Angeles como a cidade mais congestionada, com mais de 100 horas por ano, por condutor, em engarrafamentos. Aqui no nosso continente, onde são analisados quase todos os países da Europa ocidental e da Rússia, em primeiro lugar encontra-se Moscovo, com cerca de 90 horas/ano por condutor em filas de trânsito o que representa cerca de 32% do tempo de condução por utilizador médio. Seguida de Londres com mais de 74 horas e Paris, em 6º lugar, com 69 horas/ano. Belfast, na Irlanda do Norte, é a mais lenta das 200 grandes cidades do mundo consideradas, com uma média de velocidade de circulação de 5,4 km/h, próxima da velocidade de uma pessoa a andar a pé.
Das 12 cidades portuguesas contempladas nesta tabela, a mais congestionada do país é o Porto na 142ª posição, nas 748 cidades europeias contabilizadas, onde cada condutor passa mais de 27 horas ou 14% do tempo, de cada um dos 240 dias por ano que contam para esta análise, em congestionamentos.
Por seu lado, Lisboa fica com o 232º lugar na Europa, com apenas cerca de 22 horas ou 12% do tempo em congestionamentos. Curiosamente nesta tabela em 3º lugar segue-se Guimarães e em 4º Cascais.
Portanto se habita ou trabalha nalguma destas cidades, paciência! O melhor é arranjar um carro com condução autónoma para o conduzir nas filas. Assim, sempre aproveita esse tempo para fazer outras coisas e sem colocar em perigo os outros.
PR
* Texto originalmente publicado na edição n.º 103 da Revista Eurotransporte.
1É avaliado o tráfego em cerca de 1360 cidades de 38 países, particularmente nos dois continentes americanos, na Europa ocidental e do sul, em algumas cidades da Ásia e no continente africano apenas nas cidades da África do Sul.
2Trânsito refere-se à circulação de pessoas ou de veículos, ao seu movimento em geral ou aplica-se às vias de circulação. Tráfego tem origem em “tráfico”, refere o fluxo de veículos, pessoas ou de outras coisas, por exemplo, de mercadorias, de dados ou de contentores de carga, usado para a quantificação do movimento de coisas.