A transição energética do parque automóvel português só está a correr bem no que aos ligeiros de passageiros diz respeito, ainda que por força do elevado número de matriculações realizadas pelas empresas, em maioria face aos particulares, e que em 2024 fizeram com que 57% dos veículos registados fossem elétricos, com qualquer outro tipo de eletrificação ou com combustíveis alternativos. O que colocou Portugal no sexto lugar do ranking dos países da UE (sétimo, pois a Noruega, que não é membro da UE, é líder neste setor), com 20% de matrículas 100% BEV, quando a média da UE é de 14%. Também o gasóleo já só representou 9% do bolo total de veículos novos, mas, e em contrapartida, tal transferência para as energias alternativas nos veículos novos tem aberto espaço para a importação de veículos usados movidos a energias mais poluentes que é estimulada por uma fiscalidade permissiva.
Parque envelhecido
Questões que têm vindo a ser abordadas - com lamentos - pela Associação do Comércio Automóvel (ACAP). Na hora do balanço de mercado do ano, para Hélder Pedro, secretário-geral deste organismo, este é mesmo um grande problema, já que a importação de usados a gasóleo está a contrariar o que se tem ganho a nível ambiental pela redução de emissões.
Tais ganhos dizem que os ligeiros de passageiros vendidos em 2024 ficaram no patamar dos 89 gramas de emissões, quando em 2021 estavam nos 108 gramas. Quanto às perdas, apontam o trabalho estatístico que os usados importados representam 105 gramas de emissões de CO2/km. Além disso, chegam às rodovias portuguesas com quase oito anos de uso.
A generalidade do parque automóvel - constituído por 81% de ligeiros de passageiros, 16% de ligeiros de mercadorias e 2% de pesados - tinha em 2024 a idade média de 14 anos, quando em 2000 tinha metade. Os pesados de passageiros ainda são os menos idosos, com idade média de 13,7 anos, e os ligeiros de mercadorias os mais velhos, com 16,1. Os pesados e tratores de mercadorias tinham no ano findo 15,8 anos de idade média.
O dado mais alarmante é que 1,6 milhões de veículos ainda em circulação já têm 20 anos, o que também os faz mais poluentes, com a agravante de criarem outro problema: a rápida deterioração das suas condições de segurança. E isto só se resolve com incentivos ao abate de veículos de longa idade e muito poluentes. A ACAP lamenta que um pouco por toda a Europa, os executivos políticos tenham acabado com essa medida. Em Portugal, a situação é descrita como muito incipiente, pois o Fundo Ambiental só incentiva a compra de veículos 100% elétricos contra a entrega de um veículo em fim de vida. Ora, segundo os responsáveis da ACAP, a não ser para as empresas, o cliente particular, a menos que tenha um carro para abate, não tem praticamente nenhum incentivo para ter um veículo elétrico.
Daí que a ACAP saliente: até 2030 a UE exige a redução de 55% de gases poluentes aos veículos particulares e de 50% aos veículos comerciais ligeiros. Não será fácil, alerta Hélder Pedro, se não forem adotadas medidas mais eficientes de incentivos à transição energética.
Escassos elétricos pesados
Com um decréscimo de vendas de 8,3% quando comparado a 2023, o mercado de veículos pesados em Portugal no ano de 2024 representou 7250 unidades, sendo que o gasóleo continua sem rival à altura no tipo de energia utilizada (97,9%).
De acordo com os dados revelados pela ACAP, com origem na Autoridade Tributária, em 2024 foram matriculadas 7250 novas viaturas pesadas, de mercadorias e de passageiros, valor que ficou abaixo 8,3% relativamente ao ano anterior. Deste universo, 6400 são destinadas ao transporte de mercadorias (-7,6% face a 2023) e 850 para o serviço de passageiros (-13,6%).
O tipo de energia utilizada pelos veículos pesados que entraram ao serviço em 2024 permanece solidamente assente no gasóleo, uma vez que 7101 dessas novas matrículas referem-se a veículos com motorização diesel (6330 para serviço de transporte de mercadorias, e 771 para passageiros), o que representa 97,9% do total de veículos vendidos. Os veículos elétricos a bateria (BEV) que entraram em circulação em 2024 são apenas 123, ou 1,7% do mercado total (44 para mercadorias e 79 para transporte de passageiros).
Um valor igualmente escasso - 0,5% do total das vendas - resultou da opção por veículos alimentados por combustíveis alternativos, pois foram registados 25 deste tipo de veículos, sendo que quatro a GNL, 11 a GNC e outros 11 no modelo híbrido GNL/gasóleo.
Comerciais avançam 13,3%
No que se refere ao veículos comerciais ligeiros (VCL), de janeiro a dezembro foram matriculadas 32.304 unidades, o que representa um crescimento de 13,3% relativamente a 2023, o melhor de todos os setores em análise. Peugeot (5718), Renault (4356) e Toyota (3556) levaram a melhor no número de veículos entregues ao mercado.
Relativamente à tipologia dos veículos, 92,1% (29.764 unidades) permanecem fiéis na fileira do gasóleo e só 7,2% aderiram à propulsão elétrica.
Ainda liderado pela Peugeot, o mercado global de vendas de veículos automóveis (compreendidos ligeiros, comerciais e pesados) cresceu 5,6% em 2024, com a atribuição de 249.269 novas matrículas, cabendo à marca do grupo Stellantis 21.611 daquelas do segmento de passageiros e à Mercedes-Benz 16.649. A Dacia ocupou o terceiro lugar, com 16.214 veículos matriculados, mas reclamou também o título de campeão absoluto de vendas do ano, através do Sandero, na versão Stepway, ao comercializar 7660 unidades.
Por tipo de energia utilizada, os veículos elétricos a bateria foram responsáveis por 19,9% das vendas em 2024, mas quando acrescentados aos do tipo plug-in, híbridos elétricos e não elétricos, então aquele valor passa para 57,3% da totalidade do mercado.
Volvo perde, mas lidera
Por marcas, a Volvo continua a ser a mais vendida em Portugal no que se refere a pesados (mercadorias), com um total de 1282 unidades (quebra de 23,6% relativamente a 2023), seguida pela Mercedes-Benz, com 785 (-31,7%) e pela Scania, com 779 novas matrículas (-17%).
A Renault deu um salto quantitativo no campeonato das vendas, pois passou de uma quota de mercado de 8,16 para 11,48%, em resultado do aumento de vendas em 30,1%, com 735 novos registos em 2024. O mesmo se passou com a IVECO, ao aumentar mais de 17% as vendas, para 733 unidades, tal como a MAN (10,3% e 686 novas matrículas) e a DAF (28,4% e 601 unidades vendidas). Já a Ford regrediu 16,5%, registando 390 veículos, menos 77 que em 2023.
Entre os pesados de passageiros, a IVECO mostrou uma notável performance, trepando ao primeiro lugar de vendas, com 219 unidades, o que representa um acréscimo de 88,8% relativamente a 2023, mas apenas mais duas que a Mercedes-Benz.
C B